quarta-feira, 5 de junho de 2013

Experiências de leitura

A minha infância foi em um sítio, no Norte do Paraná. Sou de um tempo em que ainda existia o lampião a gás, pelo menos peguei um pouquinho dessa época. Para levar a energia elétrica para as áreas rurais era muito caro. Assim, pude ter o privilégio de, em noites enluaradas de verão, ouvir de meu pai os "causos de outrora". Sentávamos à porta da cozinha e ouvíamos as histórias, eu ficava encantada e deixava minha imaginação ir longe. Dessa forma, fui apresentada às primeiras narrativas.
Adentrei ao mundo da escrita, somente aos sete anos de idade. Confesso que tive dificuldade no início para aprender a escrever e ler. A diretora, na época, chamava aluno por aluno em sua sala para tomar nossa leitura. Esse momento era temido por todos. As minhas primeiras leituras "das letras" foram obrigatórias: Coração de vidro; Reino Perdido do beleléu, Se Será Serafina entre outros. Lia empurrada, mas, como disse Contardo Calligaris em seu depoimento, "a função essencial da literatura é a de libertar o ser humano", desse modo, vendo meu irmão, que também já estava na escola e que lia com prazer, passei também a querer aquilo e, de livro em livro, conseguimos comprar e ler vários da Série Vagalume. Fui aprendendo a gostar cada vez mais, agora já na adolescência, fase difícil para todos, os livros foram meus companheiros; minha liberdade.
Lá, no sítio, há uma mangueira(ela está lá até hoje) e, nela, as raízes desenvolveram-se como que se desenhasse um assento. Ali, viajei para vários mundos, sonhei, chorei e cresci, como revela Marilena Chauí, "o livro abre para mundos novos, ideias, sentimentos novos". Nesse momento, consegui ler livros como Memórias Póstumas de Brás Cubas. Li mesmo por fruição, porque ainda não tinha maturidade para compreender a sua temática.
E, por último, concordo com Antonio Candido quando afirma que "a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade, na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para o mundo". E, aí, entra de novo Machado de Assis, porém agora de forma consciente, pois ao ler Dom Casmurro, é possível observar a genialidade de um escritor. Ele já era pós-moderno naquela época, já que ao criar um narrador em primeira pessoa, ele apresenta um ponto de vista, uma das verdades. Após ler esse livro, antes de fazer qualquer julgamento, sempre penso estou diante apenas de um ponto de vista e o outro? Daí a leitura também ter seu caráter humanizador. Hoje, ler é o alimento para minha alma; é o que me acalma.

Profª Sônia Berveglieri

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